FILHO (olha emburrado para o prato vazio)
PAI – Não está com fome?
FILHO – Com fome eu tô, não to é com vontade de comer comida de velho.
MÃE — De-cre-tei ! Ou ele come legumes e verduras, ou vai passar fome. Não quero filho meu engordando para ter problema de saúde depois.Só quer batata frita e carne, carne e batata frita ! (ela vem com uma travessa de bifes, e o pai tira um, ela senta e tira outro e o filho fica com o prato vazio).
MÃE -- Nos estados unidos um jornalista passou um mês comendo a tal fast-food, engordou mas de 6 quilos !
PAI – E como é que ele agüentou um mês comendo isso?
FILHO – Porque ele é gostoso! (e pega com nojo a folinha de alface, põe no prato e fica olhando como se fosse um bicho)
MÃE – É preciso experimentar para saber o que é ou o que não é gostoso.
PAI – Quando eu era da sua idade, comia cenoura crua, pepino, manga verde com sal e comia até milho verde cru. E devorava o cozido de legumes da sua avó! E essa alface! Para comer, é preciso colocar na boca... (o filho enfia a alface na boca, mastiga fazendo careta, pega um bife, a mãe pula da cadeira, pega o bife de volta).
MÃE -- Não senhor ! Só com salada pra valer, arroz, feijão, tudo! (olha o prato vazio até que resmunga).
FILHO – Se vocês sempre comeram tão bem, como é que acabaram barrigudos assim?
PAI – Isso é da idade, o importante é ter saúde.
MÃE – E você, se continuar comendo só fritura, carne, doce e refrigerante, na nossa idade vai pesar mas de 100 quilos!
FILHO – No Japão (resmungando) podia ser lutador de sumô e ganhar uma nota.
MÃE (cantarolando) – E no natal vai ser papai Noel, né ? E Rei Momo no carnaval.
PAI – Não tripudie ele ainda vai comer de tudo. Quando eu era menino, detestava sopa. Ai um dia minha mãe fez sopa com macarrão de letrinhas, passei a gostar de sopa!
FILHO – O que é macarrão de letrinhas?(ele põe na boca uma rodela de tomate, o pai e a mãe trocam um vitorioso olhar ).
PAI (voz doce). -- Está descobrindo que salada é gostoso, não está?
FILHO -- Não peguei o tomate para tirar da boca o gosto nojento da alface, mas acabo de descobrir que tomate também é nojento.
PAI – Mas catchup você come, não é? Pois e feito de tomate!
MÃE – Ele também não come ovo, mas come maionese, que é feito de ovo!
PAI – Coma ao menos arroz e feijão. (ele pega uma colher de feijão, outra de arroz). Vi num filme onde num campo de concentração só comiam assim pouquinho, só o suficiente para sobreviver... (mastiga tristemente, até que o pai lhe bota o bife no prato de novo, mas a mãe retira novamente).
MÃE – Ou salada ou nada! Sem chantagem sentimental. (o pai come dolorosamente, a mãe come furiosamente, ele continua olhando a mesa vazia tristemente).
PAI (na cozinha sussurra para ela) – Mas ele comeu duas folhas de alface, não pode comer dois pedaços de bifes?!...
MÃE – De jeito nenhum! Desta vez é para valer.
PAI (lendo jornal) – Não quer um sanduíche de bife, com salada é claro?
FILHO – Não, só quero saber uma coisa da tal sopa de letras.
PAI (animado) – Pergunte, pergunte?
FILHO – Você podia escrever o que quisesse com as letras no prato?
PAI – Claro! Por que, o que você quer escrever?
FILHO – Hambúrguer, maionese e catchup.
MÃE – É teimoso que-nem o pai.
PAI -- Teimoso e que teima comigo. (o filho vai para o quarto só sai na hora da janta: sopa de macarrão).
FILHO (então vai escrevendo e engolindo as palavras: escravidão, carrascos, nojo e enfim escreve amor, o pai e a mãe lacrimejam) – ainda não acabei, ta faltando letra para escrever: amo rosbife com batata frita...
Autor: Domingos Pellegrini
Adaptação de Eduardo Gomes Guzzo Filho & Nickolas Pontes Freitas
Niterói 05 de abril de 2011
